segunda-feira, 27 de abril de 2015

sábado, 25 de abril de 2015

Cabo Verde, bom-dia

Cabo Verde amanhece no burburinho do mar.


No fundo das escadas a mesa está posta para o pequeno-almoço familiar: queijo da terra, tomate com orégãos, papaia, chá, café, sumo de ibisco, pão e pão e pão caseiro e uma salada de fruta dos hóspedes na última noite.
Na transparência da mesa roda a conversa em várias línguas: português, crioulo, inglês, espanhol e italiano. O polaco ficou nas histórias de vodka. A música entrou a pouco e pouco na conversa e o pequeno-almoço terminou ao som da Sara Alhinho ("filho de peixe saber nada").


Os pés inquietos subiram até ao Plateau e pouco depois negociaram um táxi até à cidade velha. Lugar parado no sorriso de mulheres de lenço, que lembram as avós de sempre.


Lugar que passou pelo traço de recuperação do Siza Vieira. Lugar de ruas estreitas de mãos dadas com o mar e com a fortaleza lá no alto. Lugar da primeira catedral, que agora se entrega às ruínas.


De volta à "cidade nova" era tempo de procurar peixe de mar em terra e sentir o gosto da terra com "Romeu e Julieta" (doce de papaia com queijo).
Bom-dia Cabo Verde.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

a viagem

Para os curiosos,

A viagem correu bem e no tempo previsto. Já não me lembro quando é que isto me aconteceu.
A tripulação era um mimo de simpatia. À hora da refeição ecoou José Cid "a pouco e pouco (favas com chouriço)" e mais tarde a minha concentração no New York Times assustou a hospedeira de bordo que me vinha oferecer água ou café.



.......

Aterro, sinto o calor e o chão debaixo dos pés e dentro de mim pergunto "Onde estou?", ainda que ouça as indicações em crioulo.
Sigo na fila para comprar o visto, fácil e rápido. Lá fora vozes que oferecem táxis e braços que carregam malas. Um dos braços abre a voz para me perguntar: "Posso-te fazer um convite?", respondi que sim. E da sua voz ouvi "O que vais fazer no fim de semana, podíamos ir passear".
Fora de mim sei: "Estou em África"



quarta-feira, 22 de abril de 2015

a mala


Para a mala,

Ontem pediste-me para te fazer descer do sótão, querias começar a sentir a viagem. Ficaste num canto a ver-me passar. Hoje quando te corri o fecho devolveste-me um sorriso, piscavas o olho à balança, para ela não me deixar ultrapassar o peso da bagagem de mão.
Olhaste-me de lado quando te pedi para levar a "História de Angola", disseste que não sabias o que ia fazer com ela. Argumentei. Ficaste calada, talvez soubesses que ias vencer. 
Venceste, mas pedi à mochila que levasse o "Na Patagónia", do Chatwin... Perguntas-te se terei comprado um bilhete com outro destino ou se preciso de uma mapa.
...
Terás a certeza que não, quando te voltar a correr o fecho para te despir o interior... Saberás que estás em Cabo Verde e que foi a cumplicidade da mochila que guardou o guia de viagem, para eu não me perder.


terça-feira, 21 de abril de 2015

o primeiro

da palavra nasce a viagem
  • pelo gosto e desejo de viajar
  • pelo gosto e vontade de experimentar outras palavras  
  • pelas cartas que me faltam escrever

a ordem pode não ser bem esta, mas são os desejos expressos em letra minúscula

as cartas, os bilhetes e os telegramas nem sempre terão um destinatário expresso, serão de quem os apanhar