segunda-feira, 21 de novembro de 2016

ela

para ela que me ajuda em casa,

Ela tem o nome de uma das filhas do profeta, tem o nome da minha mãe, o nome que eu quase estive para ter, tem nome da mãe do mundo ainda que não seja mãe de ninguém.
Como de outras vezes, no início da semana disse-me que na sexta-feira não viria. Como sempre faz quando percebe que eu conheço um pouco da cultura, riu-se quando lhe perguntei se ia ao Magal de Touba.
Respondeu que sim, falámos da ida.


Touba fica a uns quantos quilómetros de Dakar e por lá, todos os anos, há uma peregrinação, para a qual vem gente de vários pontos do país e do mundo.
Esta celebração é organizada pela comunidade mouride para prestar homenagem ao seu fundador, assinala a data da sua partida para o exílio - é o Grand Magal de Touba. O Petit Magal marca a data da sua morte.
É um tempo destinado à leitura do Corão e dos Khassaides (os escritos do fundador), à acção de graças, através da partilha do alimento. É um tempo destinado à oração e interdito à música.

Ela voltou falámos da partida de manhã cedo num autocarro cheio de gente - como o que vi da minha janela cheio de gente, de colchões e de objectos de cozinha. Do regresso tarde na noite.

Falámos das coisas de casa e dos pequenos bichos que aparecem. Das formigas que a esta hora estavam tímidas e mais uma vez voltei a ouvir: "É bom ter formigas em casa". Já me explicou sem saber explicar que formigas são bom sinal, que há casas onde não aparecem.



Eu fico só  a pensar no quanto é bom, no quanto elas gostam de repelente caseiro para baratas. Bebemos café e comemos uma sobremesa que comprei. Pergunta se fui eu que a fiz e eu pergunto-lhe se experimentou os crepes, para os quais lhe dei a receita. Diz que ainda não. Digo-lhe que devia aprender a ler, diz que um dia vai aprender.
Pergunto-lhe pelo dia no aniversário, diz que se esqueceu, que foi na Páscoa. Digo-lhe que a Páscoa muda todos os anos, diz-me o ano em que nasceu (um antes de mim), diz o mês, mas não sabe do dia, tem de ver no cartão de identidade, não o celebra. Falámos da importância da vida.


 






Ela pergunta pelas coisas novas que vê pela casa, porque comprei isto ou aquilo. Ri-se numa interjeição entre o Ah! e o meu nome. Imagino que pense no meu bom ser louco!!


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