sábado, 1 de abril de 2017

viajar em trabalho ou o trabalho da viagem

aos viajantes em trabalho,

A ideia necessária surge com mais ou menos tempo de preparação e a viagem começa  mesmo antes de chegar ao aeroporto:

- acordar a data e os termos de referência com a parceria de trabalho, escrevê-los em duas Línguas para serem compreendidos por todos, escolher itinerários de viagem, preparar reuniões, preparar formações, imprimir papéis, telefonar aqui, telefonar ali;
- o tempo vai ficando curto, as horas esticam-se para lá do limite;
- voltar ao itinerário, perceber como chegar ao aeroporto;
- mala feita com mais ou menos pressa.

Tudo acalma naqueles minutos em que nos sentamos a imaginar o nosso avião, a ver outros que aterram, passageiros que chegam, passageiros que vão.. os olhos perdem-se por aqui, pelas páginas de um livro ou pelo écran de um computador.
O telefone toca - alguém que deseja boa viagem, alguém que pergunta por nós...

O altifalante anuncia o embarque e o espírito prepara-se para mais um momento de segurança: as malas de mão voltam a ser revistas, os corpos percorridos... a água comprada no aeroporto não entra no avião, diz esta companhia aérea...
Procurar o lugar, sentar, dois dedos de conversa numa língua ao acaso. Voltar ao trabalho quando o comandante autorizar.. não não é possível... o espaço é reduzido e o passageiro da frente reclinou o banco: computador salvo a tempo... ler um livro será a melhor opção... chega uma refeição, outra e mais outra (nos voos longos). A cada viagem uma surpresa numa caixinha de plástico ou alumínio.

 



Aterrar.

Esperar pela escala.... voltar a esperar... o voo é adiado... na agenda uma actividade marcada para o dia seguinte de manhã cedo... não, claro que vamos chegar a tempo... espera-se... mais um anúncio de adiamento... a internet é limitada... o roaming não funciona... a criatividade ajuda a avisar o atraso... ficamos mais próximos da hora da entrada.. será agora... não será quase uma hora depois... já dentro do avião percebe-se que há um problema no ar condicionado do avião: bem-vindo à sauna a bordo. O passageiro do lado começa a contar histórias... já lá vai meia hora de confusão quando finalmente levantamos voo.
Uma hora depois o comandante avisa que não há autorização de aterragem, logo vamos voltar para trás.

Já em terra ninguém sabe o que fazer connosco. Esquecemo-nos da agenda prevista para dali a umas horas. o importante é saber onde dormir, quando viajar: quase duas horas depois pouso a cabeça na almofada do hotel. Penso que me disseram para não me preocupar, que ao pequeno-almoço saberei do voo... Penso que talvez haja tempo para ve Abidjan de dia... Aviso que não sei quando chego... adormeço em pensamentos e em mensagens para longe.. O telemóvel toca, queriam saber de mim... Volto a tentar dormir.. O telefone toca: sim, percebi bem é para descer, comer e ir para o aeroporto.
Em correrias e medidas de segurança volto a ver-me no avião da noite anterior. Amanheço literalmente nas nuvens.. aterro a tempo do almoço, não está ninguém à espera no aeroporto, entre falhas de internet consigo dizer chegamos... Entre gente que espera alguém chega. E nós chegamos a tempo de lavar a cara, sentar na sala de reuniões e momentos depois partir para o almoço.
Os dias passam entre cansaço, apresentações, trocas de ideias, avaliações, discussões tudo numa miscelânea linguística.
Há sempre o pensamento de querer saber o que há para lá do muro de hotel: bem-vindos à noite de Acra, é hora de jantar.




 






Deixo-me guiar pelos colegas que chegaram antes: ruas iluminadas, com música e carros que os percorrem, meninas que se vestem de modo liberto, carro que param, que as levam.
Chegamos ao maquis: um espaço tradicional onde se come peixe ou frango grelhado com inhame frito. Uns encomendam os outros vão comprar bebidas a outro lugar. Sentamos-nos nas cadeiras frente às mesas de plástico e enquanto esperamos pelos pratos chegam as bacias com água. Lavamos as mãos que percorreram o peixe e o frango. A noite e a bebida estão na temperatura ideal.
O ritual repete-se no dia seguinte, depois de uma ida ao Mal comprar woodin e ver um pouco mais além do hotel.



O dia amanhece a caminho do aeroporto, pouco sei de Acra, apenas da ideia de que talvez fosse capaz de lá viver.